quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Calendário velho

Quanta saudades sinto de mim
Do eu de ontem
Que corria atrás da própria sombra até alcançá-la
Dos cabelos ainda negros
Dos olhos sagazes
Da voz de gralha
E até do corpo franzino
Saudades dos joelhos esfolados
Da barba falhada
Dos sonhos não realizados
Dos amores não correspondidos
Das músicas que detestava
Dos amigos desengonçados
Da moça que não tive coragem de roubar um beijo
Saudade da fome insaciável
E da sede pela vida
Saudades do abraço que não dei
Das palavras que não usei
Do perdão que não pedi
Da flor que colhi e despetalei
Das pedras que joguei
Da água suja que bebi
Do leite azedo que cuspi
Dos porres que tomei
Saudades dos dias chuvosos que amaldiçoei
Do barro que amassei
Da roupa nova que sem querer rasguei
Das broncas que tomei
Saudades das pessoas para quem eu sorri
E das que me fizeram sorrir
Das quais por quem eu chorei
E das quais que por algum motivo eu fiz chorar
Saudades do calendário que eu não via a hora de acabar.

3 comentários:

  1. Alessandro, este seu poema veio a calhar com meu dia de hoje. De manhã, fazendo umas arrumações em minha estante, achei uma agenda onde escrevia poesias minhas e outras que eu achava em revistas. A agenda data de 1991...Quase duas décadas... muita mudou. Mas me deu saudade, saudade daquele tempinho, daquele ar mais puro, daquelas cores jovens. E agora, quando vejo o convite para seu blog, a primeira coisa que leio é "Calendário velho"... Amei de montão. Parabens! Abraço!

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  2. Sandro, parabens!! faço minha as suas palavras, orgulho-me de saber que em muitas destas saudades eu estava junto. Quantas saudades!!! abs

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  3. Gostei dessa fita quenti ae mano! se é foda mano

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